É realmente difícil compreender o amor de Deus. Um amor que
mesmo sendo por tantas vezes rejeitado, humilhado, renegado, excluído e ferido,
não deixa de amar aqueles a quem tanto O ferem, negam e desacreditam. Podemos
pensar no sofrimento que Jesus experimentou ao longo de toda a sua vida na
terra, principalmente no momento da espera agoniante no Monte das Oliveiras e
todo o caminho do calvário até o alto da cruz, mas também podemos nos remeter
às várias dores que lhe são impostas ainda hoje, por aqueles que o rejeitam,
humilham, renegam, excluem ou são indiferentes a Ele. Ainda assim, o Amor não
deixa de amar.
Grande exemplo de caridade e amor fraterno nos deu o Cristo,
o qual foi mais fundo no mistério do amor do que qualquer outro homem que já
existiu, existe ou ainda existirá. O fato de Ele ser Deus não impediu que
sofresse as dores da humanidade. Talvez, se tivesse ficado indiferente a nós
enquanto habitava nesta terra, não passasse por tantas humilhações e rejeições.
Mas Ele nunca cansou de nos amar.
Deus sabe o quanto um coração ferido pode ferir também e
sabe, como ninguém, compreender o incompreensível, ter compaixão por aqueles
que nunca a tiveram com seus irmãos e amar os que não amam nem a si mesmos.
Sendo assim, Ele encontrou motivos para continuar amando e se doando mesmo
quando tudo contribuiria para que parasse, pois sabia reconhecer um coração
ferido e necessitado de amor. Além disso, o amor do Pai era-lhe um sustento
maior do que qualquer outro poderia ser. O amor de Deus nos basta para
continuarmos com a missão de amar.
Tudo parecia dizer: Pare, não vê que eles não te amam? Não vê
que são ingratos e cheios de ressentimento? Outra pessoa poderia se render a
dor da rejeição, deixando de lado a missão para isolar-se em si mesmo e buscar
a realização das próprias vontades. Tal sentimento é constante em nossa
caminhada, ele fala de um determinado viver no qual não cabe a existência do
outro, seria ele o próprio individualismo pregado na frase “cada um por si e
Deus por todos”. Quando foi que Jesus pregou dessa maneira? Em algum momento
ele disse algo minimamente parecido?
É claro que Deus é por todos, mas também precisamos ser
assim, por todos. Afinal, Deus nos fez um só corpo na santa Igreja e pensar
apenas no que é melhor para mim impede de que eu inclua o outro nos meus
pensamentos, olhares, palavras e atitudes. Só o amor de Deus basta, por isso,
quando todos parecerem agir conforme esse viver pautado na busca desenfreada
pelo prazer individual, que exclui a vivência comunitária e fraterna, voltada para
o coletivo, lembremos do amor de Deus e fixemos o nosso olhar no Jesus
crucificado, o Amor que se entregou até as últimas consequências.
O amor cura e ele
também nos cura para continuarmos amando.
Porque amar é uma doce loucura
Loucura de cruz